Por Maria Monteiro
Embora
meu café tenha esfriado não me apercebi das horas que se passaram, e
como prova de minha indulgência lamentei o desperdício do pó e do tempo
que perdi. Durou uma esfriada de café, se bem que o café, já frio, pode
estar ali em descanso há dias... Que diferença faz o tempo, se já se faz
frio? Morno; quente; isso importa mesmo ao café, ou a mim? As
temperaturas não dependem da gente, não é mesmo?
Eu me aqueço, fervo... Por uma chama. Chama-se: AMOR! Não é a mesma que
faz do café quente; essa é mais ardente, queima! E de tão insistente
que é, essa chama que me aquece chega a torrar a minha paciência, quando
penso que será reduzida a cinzas, ela consegue com pequenas fricções
espalhar faíscas...
Minha cabeça anda a mil: cafeína; Renato; AMOR;
desamor; Beirut; suco de uva; busca do pote de ouro no fim do arco-íris;
insônia; olheiras; sombra; luz; uma imensa vontade de voar de
asa-delta; a literalidade do jornal da meia noite – às boas notícias do
mundo que não chegam -; E eu, que não viro notícia!
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