domingo, 28 de junho de 2009

Essencial

Poema Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar. Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar ".



Victor Hugo

terça-feira, 2 de junho de 2009

Refletindo

O que faremos com nossos dias violentos?

... Tento tranquilizar minha cólera, diante das atrocidades anunciadas nos meios de comunicação, sobretudo a TV. Pergunto-me sempre quantos mortos estamparão a próxima edição, e quantas vítimas terão de mostrar, no ímpeto de suas perdas, para sensibilizar e despertar a empatia dos telespectadores, e obter assim o seu maior índice de audiência.

Guardo essas notícias de Violência como um turbilhão em meu pensamento - não sei se por causa dos atos, ou, da forma como eles são tratados - Embora, processe as informações rapidamente, o centro de minha mente parece sofrer danos, como a falta de credibilidade nas políticas governamentais do meu país e o medo que assola minha esperança, impedindo-me de ter iniciativas de combate.

No atual estágio da Violência Nacional, comumente mostrada de maneira sensacionalista, a banalização parece ter tomado o lugar de outros sentimentos, entre os quais o amor ao próximo. Apesar de inúmeros fatos, a preocupação dos governantes, parece não ir adiante, mostra-se entorpecida, como um verdadeiro parasita alimentando-se de vários tipos de violência. Seguem (estagnados), tornando cada caso único: como uma origem remota; como se não houvesse acúmulo; como se não fosse um caso de calamidade pública.

Em meio a uma insegurança da qual só sabemos subestimar, celebramos nossos feriados e nosso futebol, sem ao menos considerar nossas praças e praias, casas e empresas, enfim, locais públicos e privados como um cenário propício ao próximo crime.
A expansão da criminalidade é mais bem percebida, no território daqueles que sofreram a perda incorrigível de um ente querido, quanto a nós... Sabemos o que nos afligi, e estamos em alerta! Entretanto, o tamanho da nossa preocupação deveria seguir a mesma proporção das atitudes a serem tomadas - que não são poucas - em busca de uma solução.

Suely Monteiro

"A natureza humana é boa e a maldade é essencialmente antinatural." [Confúcio]

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A MENTE HUMANA

[...] Presumi-se que seus estímulos fossem meramente intrigantes, ninguém os conhecia - desconheço a proporção, desconheço o culto relevante – considerando sua repulsa diante de seus sentimentos. Inferi-se que sua mente guardava desejos reprimidos, que por volta e meia, quando acionados, provocavam mudanças em seu humor, desejos recessivos, capazes de sucumbi-la se os levasse adiante. E por isso, sabendo que não nascerá para se render a eles, resolveu que seria melhor seguir seu caminho e deixá-los para trás.

Durante todas as manhãs fora assim: os astros combinavam a cor do céu que ela teria. Se cinza ou azul, independente do tempo lá fora - ela sabia - deveria enfrentá-los. Preservava a coerência nas vestes, e, portanto, sabia qual delas usar, mantendo a imagem que pintou de si mesma ao mundo; diante daquilo que podia mostrar, e ou, esconder... Alternando a vestimenta por ocasiões - transcrevo o dia de céu cinza - a moça seguia dizendo a si mesma:

- Em mim existe um universo, que a vista humana é incapaz de abranger...
Hoje me vestirei de sol, embora os astros não tenham me preparado um céu azul.

[...] Em todo ser humano existe um universo, que a vista humana é incapaz de abranger. Habitado por frustrações, e mais ainda pelos sonhos e por estímulos de sujeição e transformação que nos posicionam a aspectos assumidos, ou não, diante do mundo.
O pensamento é a órbita humana. Dentro da mente é arbitrário fora dela súdito. Para se ter uma idéia, da devastadora diferença entre o que não se pode ver, e o que se é mostrado. Dentro do texto fiz questão de correlacionar o universo àquilo que escondemos. Esse universo proposto constitui um labirinto inanimado e permanente, ainda que não seja necessariamente desconhecido por quem nele é inserido. Escondidos ficam alguns de nossos desejos. O mais notável nesse trajeto é a quantidade de sonhos que abandonamos. Para compensar tantas perdas criamos o esboço que precisamos para encontrar a porta de saída entre o labirinto inanimado e a realidade que vivemos.
Na verdade, nunca saberemos ao certo os mistérios disseminados dentro de outro ser. Essa busca por conhecer-los permite concluir que o único real sentido para isso, é o anseio que temos, como diria Manuel Bandeira: “- A dor de ser homem...este anseio infinito e vão de possuir o que nos possui.”


Suely Monteiro