quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Além do Poeta

Outro dia quis escrever um poema sobre a grandeza do amor. Achava ousadia dedilhar em meus versos curtos o seu encanto, se nas emendas dos recortes, sequer seu contorno, sequer seu revestimento, quase nada, fazia juz, ao seu aspecto majestoso. – Mesmo assim o fiz. Sobre o vão da sala, quase em silencio, recitei um verso simples [...] O amor dói  “em seguida” expulsei o “Eu lírico” mandei-o embora. – Como ousa, em alusão, dar tal sentido àquele que remonto? – Ajoelhei-me no chão, à mesma sala, como se tivesse palavras próprias a reunir, como se quisesse ser além do poeta; revestindo-me de soberania, declamei meu protesto [...] Revê a alegria que se teve/ tão só à dor deste instante/ penso, melhor “sinto” não é o amor imune ao desalento/ tampouco dois corpos ungidos de glória. – Remonto o amor com a legitimidade de quem o vive –  “Aquele que anseio/ embora pungente/ apraz-me em sua presença/ recusando-o eu morria.” – E, procurando adorno ao ato de deitar com outros corpos recitei – Que venham os dias de solidão/ ao corpo nu e acompanhado/ no prazer da carne... Que venham, para alimentar ilusões... – Qual “intenção” tem o poeta? Externar sem extrair? Eles parecem colecionar sentimentos; transformando tudo em palavras. Eu me pergunto: como contextualizar a luz, se além de um clarão, pode-se ater a ela, também, uma fagulha?  Diz-se pouco de uma luz, considerando literalmente, seu efeito no aquém-escuro que antes se encontrava. Desse modo, admiro os poetas em suas definições harmônicas e imputáveis acerca de sentimentos e de coisas em “seus efeitos e sensações”.  – Devo logo dizer que não sou poeta, alguns poemas que já ousei escrever não passaram de dez linhas – pode-se dizer que sei fazer versos curtos, tão curtos quanto os instantes em que me permito senti-los. A mim, não é tarefa difícil falar de sentimentos, no entanto, quanto a este ato, quase não há empirismo; prefiro recorrer à ficção. Tendo eu uma mente literária, inventei personagens, e em meu mundo tudo parece ter vida. Não é raro me pego falando com criaturas inanimadas de algumas fábulas que criei. Mas confesso sentir inveja dos poetas, dada a maneira como eles usam alusões aquilo que sentem. O que mais me atrai em reflexões poéticas é o adorno, o rebuscamento que se tem para falar de coisas tão simples. Não adianta dizer que o ser poeta é um ser simples, que isso não me convence. Daí talvez se dê o meu distanciamento a esse título.

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