segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A admiração...

A admiração é um sentimento fantástico. Se alguém me perguntasse, não saberia responder a ordem exata daquilo que se adquiri quando um ser passa a admirar outro. Também não acredito que exista ordem, ou que a ordem possa interferir no resultado. Quando o assunto é admiração, há um conselho indispensável: cuidado com aquilo que você admira. Eu acrescento outro: cuidado com você, quando deixar de admirar algo.
Cá pra nós, é sabido que estamos em constante mudança. O mundo muda, mudamos também. O espelho é um só quanto aos reflexos... Sugiro: analise aquilo que você quer seguir e quando seu anseio for abandonar algo ou alguém, analise a si mesmo.

Um comentário:

  1. Lenta infância por onde
    Como de um pasto largo
    Cresce o duro pistilo,
    A madeira humana.

    Quem fui? O que fui? Que fomos?

    Sem resposta. Passamos.
    Não fomos. Éramos. Outros pés,
    Outras mãos, outros olhos.
    Tudo se fui mudando folha a folha
    Na árvore. Em ti? Foi mudando tua pele,
    Teu cabelo, a memória. Aquele não foste.
    Aquele foi um menino que ia correndo
    Por detrás de um rio, de uma bicicleta,
    E com o movimento
    Foi-se a tua vida naquele minuto.
    Falsa identidade seguiu teus passos.
    Dia por dia as horas se amarraram,
    Mas tu já não eras pois vinha o outro,
    Um outro tu, um outro até que foste,
    Até que te tiraste
    Do próprio passageiro,
    E do trem, e dos comboios da vida,
    E da substituição do caminhante.
    A máscara infantil foi se trocando,
    Adelgaçou sua condição dorida,
    Aquietou seu cambiante poderio:
    O esqueleto se manteve bem firme,
    A construção do osso permaneceu,
    O sorriso,
    O passo, mais um gesto voador, o eco
    Daquela criança nua
    Que surgiu de um relâmpago,
    Mas foi o crescimento como um traje!
    Era outro o homem e o levou emprestado.

    Assim passou comigo.

    Um rústico
    Cheguei a cidade, gás, rostos cruéis
    Que mediram minha luz e estatura,
    Cheguei a mulheres que em mim se buscaram
    Como se a mim tivessem me perdido,
    E assim foi sucedendo
    O homem impuro
    Filho do filho puro,
    Até que nada foi como havia sido,
    E de repente apareceu em meu rosto
    Um rosto de estrangeiro
    E era também eu mesmo:
    Era eu que crescia,
    Eras tu que crescias,
    Era tudo,
    E mudamos
    E nunca mais soubemos quem nós éramos,
    E às vezes recordamos
    Ao que viveu conosco
    E lhe pedimos algo, talvez que nos lembre,
    Que saiba ao menos que fomos ele e falamos
    Com sua língua,
    Mas desde as horas que se consumiram
    Aquele olha e não nos reconhece.

    "O menino perdido"

    Pablo Neruda.



    E ninguém será mais o mesmo após um novo segundo corrido.


    Abraço.

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