Perdoarei qualquer antagonismo que surja das subseguintes palavras, ainda mais por ser minha, apenas minha a “DOR”.
Em outra oportunidade, já escrevi a vocês sobre o tempo que se perde e o trabalho que se tem em sofrer. Não, não era tão verdadeira a banalidade que atribuí ao sentimento de DOR...
Na verdade – acredite agora – sempre quis parecer feliz, por causa do título que deram ao meu sorriso, da espontaneidade e sedução que ele transmite. E venhamos e convenhamos o meu sorriso não imuniza meu ser de nenhuma dor, aliás, o de ninguém. Seja a dor, física ou emocional sua peleja requer uma força – e, na vida, em determinadas circunstancias duvidamos ser o Marinheiro Popeye- quer seja sua – ou, extraída do espinafre – a força é o que nos faz reagir, isso parece óbvio, embora não seja fácil. O analgésico está para a dor física assim como o aprendizado está para a emocional. Hoje – tenho certeza – só dói o que precisa de remédio, ou entendimento.
[...] num abismo, um homem resmungou de sua sorte. De instantes, sentiu eternidade... Encalhou o corpo e agonizou sua mente. É possível que tenha passado por seus pensamentos – num curto espaço de tempo – que não conseguiria desvencilhar-se, tão cedo, daquela sensação – Cruz Credo, aqui parece o fim de tudo – disse, olhando a si mesmo. Naquele momento constatou... Na dor, resignar-se não é a solução – para sair desse abismo, preciso escalar – sozinho, ocupou-se em reunir forças, ainda caído se deu conta das alternativas que lhe restavam – sempre há tantas direções a seguir – afirmou o homem, não por esperança, mas por clemência a si mesmo. Sem demora, comportou-se como um guerreiro, numa luta solitária, a ferro e fogo, soergueu-se daquele lugar. Não se pode chamar de fé o que o estimulou, – já acertei as contas com Deus – ter sido honesto lhe rendeu o melhor amuleto “o consolo” e quem não o for consigo, do mesmo modo, que não seja com os outros... Bem, o importante não é o diagnóstico do mau-caratismo alheio, mas o entusiasmo individual de quem quer sair de um buraco, quer seja pelas cordas que lhe jogam, quer seja pela trilhas que lhe restam. Avante, contudo, nunca se sabe o que irá suceder, tampouco vale lembrar o que sucedeu. É irônico, mas o corpo pesa mais sem alma; inerte...
Percebe-se a leveza da vida quando a dor faz pesar o ser.
(Maria Monteiro)
Vou agraciar meus queridos leitores, com um poema do grande MANUEL BANDEIRA, ele que soube fazer aquilo que não sou capaz, transformar “DOR EM POESIA”...
A VIDA ASSIM NOS AFEIÇOA
Se fosse dor tudo na vida,
Seria a morte o sumo bem.
Libertadora, apetecida,
A alma dir-lhe-ia, ansiosa: - Vem!
Quer para a bem-aventurança
Leves de um mundo espiritual
A minha essência, onde a esperança
Pôs o seu hálito vital;
Quer no mistério que te esconde,
Tu sejas, tão somente, o fim:
- Olvido, impertubável, onde
"Não restará nada de mim!"
Mas horas há que marcam fundo...
Feitas, em cada um de nós,
De eternidades de segundo,
Cuja saudade extingue a voz.
Ao nosso ouvido, embaladora,
A ama de todos os mortais,
A esperança prometedora,
Segreda coisas irreais.
E a vida vai tecendo laços
Quase impossíveis de romper:
Tudo o que amamos são pedaços
Vivos do nosso próprio ser.
A vida assim nos afeiçoa,
Prende. Antes fosse toda fel!
Que ao se mostrar às vezes boa,
Ela requinta em ser cruel...